Trambolhão

ENG:
I am standing in front of an entire field of time.
Every step I take burns a hole through the ground.
As I walk, a drawing unveils.
I run fast enough to go through time.
Follow these instructions. The instructions do not work.
I lose in every game I play.
Try to draw a straight line, even though trees do not grow in one direction. Time does not move in one direction either.
Everything we never said, everything we haven’t said. Everything I can’t say.
I am writing feeling all of this. I am writing, I can’t feel any of this.
Code yellow.
2: 1 climb, maintain flight level three five zero.
2: 1, climb, maintain flight level three five zero.
2: 1, 2.
2: (Indistinct) Coyote, how do you hear?
Coyote: Coyote has you loud and clear.
2: 1, 2.
2: 1, the 1 on the frequency, how do you hear me?
3: This is 3.
2: This is 2, I turned 1 left and I was going to climb him, she will not respond to me now at all.
3: Looks like she is turning right.
You are standing in front of the thing you have been chasing, it looks like a reflection, shadow. That shadow is not dark, it appears to glow. You are surrounded by trees. Silence does not exist. You have a tennis racket on your right hand and a smooth rock on your left. You cannot run away. What do you do now?
End of transmission

PT: Entra na sala por uma porta a este, vês uma lareira. A norte, há esboços de planos em papel para objectos que não existem. Perdeu-se tempo a escrever sobre coisas que não resultam, instruções que não funcionam. É uma vergonha estar-se tão à vontade com falhar. Não te esqueces do alvo. Jogam-se jogos com o desconforto de se saber que se vai perder. Pedra papel tesoura. Pedra.
Uma ratoeira, uma bigorna de algodão, o contrário do que queres.
Segues instruções. Montas armadilhas para caçar uma coisa que não se vê, a não ser a linha de lume que deixa por onde passa. Quando tropeças, para onde vão os teus passos?
Estás à frente de um campo pleno de tempo.
Cada passo que dás queima um buraco no chão, o teu caminho revela um desenho.
Corres rápido o suficiente para atravessar o tempo.
Perdes em todos os jogos.
Tenta desenhar uma linha recta, apesar das árvores não crescerem direitas. Apesar do tempo não passar em linha recta.
Tudo o que nunca dissemos, tudo o que ainda não dissemos.
Um mapa de pedra.
Um percurso invísível.
Salto de qualquer corpo, projétil, depois de bater no chão ou noutro corpo.
Continua a correr.
Estás de frente para a coisa que tens perseguido e parece um reflexo, uma sombra. A sombra não é escura, parece brilhar. Árvores rodeiam-te. Não existe silêncio. Tens uma raquete de ténis na mão direita e uma pedra lisa, alongada, na outra. Não podes fugir. O que é que fazes?
Fim de transmissão

Texto de Teresa Arega

Quinta Magnólia Centro Cultural, Funchal
Maio 2022
︎︎︎

Peguei fogo ao céu

Uma carta de amor é escrita a uma velocidade diferente daquela de todos os dias, a velocidade permeável ao que quero sentir, que normalmente me foge das mãos

v = Δs/Δt

Mas eu ando muito rápido, eu corro mais rápido, eu penso tão rápido e como tão rápido, que não é por pressa, nem é por ter onde ir, nem é porque tenho de acordar cedo, nem é porque amanhã faço anos, mas eu sinto tão rápido, eu amo tão rápido: é porque eu quero tudo ao mesmo tempo, nas quantidades todas que nem me cabem nas mãos e nem me cabem na cabeça e no coração, porque é tão forte e tão grande.

Mas é assim que eu quero, mesmo que não consiga dormir e que acabe às voltas à procura de coisas para pensar. São três e vinte e quatro da manhã e estou a ler, num ecrã demasiado brilhante, que — supostamente — há mais árvores no planeta terra do que estrelas na nossa galáxia.

+ 3T > 100-400B

De repente, o meu quarto é um gabinete ao contrário onde alguma coisa explodiu e eu não sei se olho para dentro, se olho para o céu ou se olho para ti. Na falta que me fazes, só sei habitar o mundo de apontamentos que se tornam desenhos que se tornam pintura que se tornam desenhos de novo para se tornarem a pele clara das minhas dúvidas.

Mas eu nem sei por onde começar, por isso começo pelo fim, pelo chão que é teto. Eu começo por onde a gravidade é mais forte, pelo que envelhece mais rápido, para onde olho todos os dias porque tenho de ver por onde ando e o que piso, e porque tenho demasiado medo para encarar aquela pessoa que ali vem. Começo por virar os pólos, para toda a gente notar que o que me importa é o céu e que há coisas que caem pelo caminho e outras que nunca fizeram sentido.

Mas eu nem sei se assim resulta: é que sinto que poucas pessoas olham para céu como eu. O meu céu vem dos azuis saturados dos cromos de infância, vem da ciência que vê as camadas todas de vapor de água por onde passa o meu foguetão sem chegar a nenhum piso azul; vem como guia tátil onde queria ler o meu destino e vem de um sítio onde ainda acredito que vou encontrar dinossauros. Mas agora já nem os devotos olham o céu, já nem as bruxas olham o céu, já nem os loucos olham o céu, da mesma maneira. Sabemos do saturno retrógrado, porque alguém nos disse, porque alguém lhe leu, porque alguém tem a app, porque alguém até percebe.

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Fiquei aqui a viver nos últimos dias e não sei se gosto disto tudo, mas gosto das novas cores e das antigas e gosto de como tudo me sai realmente de dentro. Gosto que a minha honestidade seja a mesma contigo, com a minha mãe e com o meu trabalho. Só que quero mesmo virar tudo ao contrário, para saber o que sentes quando não tens bem a certeza.

Na falta que me fazes, só sei habitar o mundo de novas imagens, porque eu sei que ainda não há suficientes. Eu sei que sou demasiado, que ando demasiado, que corro demasiado, que penso demasiado, que como demasiado. Nem é porque me falta alguma coisa ou porque me esqueci ou porque não há luz. É que está demasiado calor, porque ontem peguei fogo ao céu na ânsia de riscar coisas da minha lista imaginária.

Não foi por falta de instruções. Foi pela cor do teu cabelo.

Carolina Grilo Santos
Galeria do Sol, Porto
Abril 2022

Peguei fogo ao céu, exposição a solo de Teresa Arega com curadoria de Carolina Grilo Santos


Intervenção nos vidros do exterior e interior do Café Au Lait, Porto
Junho 2022
O Festival Fenda aconteceu nos dias 25, 26 e 27 de Junho de 2021 em Braga, Portugal.
Fiz 2 intervenções, uma no gnration e outra no posto de turismo da cidade de Braga.

Escrevo um poema que diz,

"regresso com facilidade, barco na água
à ternura dos teus dias
à doçura dos teus canteiros
o teu nome, sussurro nas árvores"

O Festival foi produzido pela Cosmic Burguer e CCEA Braga.

Festival Fenda happened in the 25th, 26th and the 27th of June in Braga, Portugal. I painted and wrote in 2 spots in the street, gnration and the turism information centre.

The Festival was produced by Cosmic Burguer and CCEA Braga.





Colaboração com o projecto Criar com Tradição, um projeto solidário com base na valorização das tradições Madeirenses, de jovens para jovens, financiado pelo Corpo Europeu de Solidariedade!

Criar com Tradição x Teresa Arega, 2021

A colaboração resultou numa totebag e num print.